samedi 6 juin 2009

Os perigos do misticismo

Kevin DeYoung (traduzido do original em inglês)

Eu já comentei anteriormente que gosto de começar o meu tempo devocional da manhã, lendo, seja um clássico, seja um livro de alguém que já morreu. Recentemente tenho lido o livro de Herman Bavinck [nt. teólogo, 1854-1921], Saved by Grace: The Holy Spirit's Work in Calling and Regeneration (Salvos pela Graça: O Trabalho do Espírito Santo no Chamado e na Regeneração). Este trabalho, que é extraído de seu trabalho Dogmática, em quatro volumes, focaliza-se na controvérsia do seu tempo, a respeito da regeneração imediata e da regeneração presumida.

Como eu tenho refletido sobre os Anabatistas, pensei que seria útil citar a discussão de Bavinck sobre o misticismo Anabatista (que eu não estou equiparando com os Neo-Anabatistas). Após constatar que os Anabatistas muitas vezes faziam referência a uma luz interna ou Palavra interior como a sua autoridade, Bavinck comenta mais amplamente sobre misticismo.

A sua ideia fundamental, embora modificada de uma maneira Cristã dentro de círculos cristãos, é essencial para todo misticismo, onde quer que ele tenha surgido - seja na Índia ou na Grécia, na Pérsia ou no Egito. Posta de uma forma simples, ela é a seguinte: a fim de encontrar a verdade ou a vida ou a salvação – em uma palavra, para encontrar Deus – uma pessoa não precisa sair de si mesmo, só precisa mergulhar dentro de si. Deus habita dentro das pessoas, fazendo a Sua morada no interior da pessoa, quer através da natureza ou por meio de uma descida especial, sobrenatural na pessoa. Afinal, religião não envolve doutrina ou atividade, pensar ou agir, mas a religião envolve viver em Deus, em união e comunhão com Deus, o que pode ser desfrutado apenas nas profundidades da psique de cada um, na imediação da consciência de cada um.

Bavinck discorda deste tipo de misticismo, mas ele não o considera desprovido de resultados positivos a curto prazo.

Quando esta noção foi expressada em momentos da história por uma pessoa de profunda seriedade e firme convicção, encontrando um acordo acolhedor e entusiástico em algum círculo pequeno ou grande, ela frequentemente deu origem a exuberância, coragem, entusiasmo, e um profundo e glorioso misticismo. Este também foi o caso inicialmente com os Anabatistas. Naquela época, havia muitos crentes firmes entre eles, muitos genuínos filhos de Deus. O que quer que se fale sobre os Anabatistas, não devemos nunca esquecer que em grande número e com notável fé e coragem, eles sacrificaram seus bens e seu sangue para a causa do Senhor.

Após ter fornecido esse caloroso elogio, Bavinck passa a comentar o perigo do misticismo Anabatista.

Mas o princípio logo manifestou as suas implicações errôneas. Primeiramente, as pessoas passaram a se satisfazer apenas com a Palavra interna, desprezando a Escritura e a igreja, o culto e os sacramentos [nt. o batismo e a santa ceia], apelando para revelações privadas e tornando-se culpadas de vários excessos. Em segundo lugar, quando a exuberância inicial passou, gradualmente a Palavra interna foi roubada de seu caráter especial, sobrenatural, tornando-se cada vez mais identificada com a luz natural da razão e da consciência. O supra-naturalismo abstrato foi seguido pelo racionalismo... A luz interna veio progressivamente a ser identificada, tal como acontece com os Quakers, por exemplo, com a luz da natureza. Em ambos os casos, no entanto, a Escritura não continha nada além daquilo que a pessoa já tinha aprendido pelo Espírito de Deus.

O padrão tem se repetido muitas vezes. As pessoas começam a prestar cada vez menos atenção à Escritura, dizendo que Ela possui erros ou não pode ser entendida, ou que é menos espiritual do que o Espírito dentro de nós. Exuberância, coragem, e atividades seguem, à medida que as pessoas se sentem vivas e menos algemadas pela "tradição" e proposições fixas. Com a sua verdade interior recém-encontrada, essas pessoas tornam-se cada vez mais insatisfeitas com sermões, noções de autoridade, e a Igreja-como-nós-a-conhecemos. Mais exuberância. Mas eventualmente a excitação desgasta-se. A atividade morre. O que resta é a Palavra interna, que, no final, não é diferente das nossas próprias opiniões, convicções e desejos.

Sem uma Palavra exterior, objetiva, a Palavra interna sempre abre o caminho para o racionalismo, porque, ao apelar para os nossos sentimentos interiores, acabamos simplesmente por apelar para a nossa própria razão. Ao longo do tempo, então, é cada vez mais silenciada a Escritura, à medida que continuamos a fazer e pensar o que queremos, e a Escritura é consultada apenas para confirmar aquilo que nós já "sabemos". O resultado é uma igreja fria, sem vida, sem o poder de Deus ou a verdade da Palavra de Deus.

Aucun commentaire: