samedi 18 juillet 2009

Cristo é nosso único tesouro

João Calvino (Institutas II, xvi, 19 – traduzido do francês)

Ora, já que nós vemos que toda a soma e todas as partes de nossa salvação estão compreendidas em Jesus Cristo, nós temos que evitar transferir a menor parte que seja a outros lugares. Se nós buscamos salvação: o nome de Jesus nos ensina que ela está somente Nele. Se nós desejamos os dons do Espírito Santo: nós os encontraremos na Sua unção. Se nós buscamos força: ela está no Seu senhorio. Se nós desejamos encontrar doçura e benignidade: Sua natividade no-la apresenta, pela qual Ele se tornou semelhante a nós, para demonstrar a Sua compaixão. Se nós desejamos redenção: Sua paixão no-la dá. Em Sua condenação, nós temos nossa absolvição. Se nós desejamos que a maldição nos seja retirada: nós obtemos esse bem em Sua cruz. A satisfação, nós a temos em Seu sacrifício; a expiação, em Seu sangue; nossa reconciliação foi feita pela Sua descida ao inferno. A mortificação de nossa carne se encontra no Seu sepulcro; a nova vida, em Sua ressurreição, na qual nós também temos a esperança de imortalidade. Se nós buscamos a herança celestial: ela nos é garantida pela Sua ascensão. Se nós buscamos ajuda e conforto, assim como abundância de todos os bens: nós os temos no Seu reino. Se nós desejamos aguardar o julgamento em segurança: nós também temos esse bem, pois Ele é o nosso juiz.

Em suma, já que os tesouros de todos os bens estão Nele, nós devemos Dele os tirar para sermos saciados, e não de outros lugares. Pois aqueles que não estão satisfeitos Nele, oscilam em diversas esperanças, ainda que tiverem o seu foco principal Nele, não se mantêm no caminho correto, porque desviam uma parte de seus pensamentos para outros lugares. Aliás, essa falta de confiança não pode penetrar em nosso entendimento quando, uma vez por todas, nós temos realmente conhecido as Suas riquezas.

jeudi 16 juillet 2009

Tópicos em Mordomia Cristã

Mordomia = regalia?

  • dicionário: administração dos bens de uma casa ou de um estabelecimento alheio

Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam. Porque Ele a fundou sobre os mares, e a firmou sobre os rios. (Salmos 24:1-2)

Tudo é do Senhor

  • Mordomia Cristã, definição da confissão de fé da Convenção Batista do Sul dos EUA:

Deus é a fonte de todas as bênçãos, temporais e espirituais; tudo o que temos e somos devemos a Ele. Os cristãos têm uma dívida espiritual para com o mundo todo, uma confiança sagrada no evangelho e uma mordomia vinculada às suas posses. Eles são, portanto, obrigados a servi-Lo com seu tempo, talentos e posses materiais; e devem reconhecer que tudo lhes foi confiado para que utilizem para a glória de Deus e o auxílio a outras pessoas. De acordo com as Escrituras, os cristãos devem contribuir de maneira alegre, regular, sistemática, proporcional e liberal para o avanço da causa do Redentor na Terra.

Tudo entregarei (CC 295)

  • Publicado pela primeira vez em 1896. Testemunho do autor, Van de Venter, sobre a sua composição1:

Durante muitos anos eu estudei arte. Minha vida inteira foi moldada por essa busca e o serviço cristão ativo era a coisa mais distante da minha mente. Meu sonho era me tornar um notável e famoso artista. Após terminar a faculdade, eu estudei desenho e pintura sob tutela de um professor alemão bem conhecido. Para me ajudar financeiramente, eu dei aulas em escolas e, eventualmente, tornei-me supervisor de arte nas escolas públicas de Sharon, Pensilvânia.

Foi durante esse período da minha vida que um avivamento foi realizado na Primeira Igreja Metodista da qual eu era membro. Fiquei muito interessado nessas reuniões como colaborador. O Espírito de Deus estava me impelindo a desistir do ensino e entrar no campo evangelístico, mas eu não dei o braço a torcer. Eu ainda tinha um ardente desejo de ser um artista. Essa batalha me consumiu por cinco anos. Finalmente chegou o momento em que eu já não pude mais aguentar e então me entreguei completamente - todo o meu tempo e os meus talentos. Foi então que um novo dia iniciou-se em minha vida. Eu escrevi “Tudo Entregarei” em memória da época, em que, após a longa batalha, eu me rendi e entreguei minha vida ao serviço cristão ativo para o Senhor.

  • Sobre Van de Venter, o evangelista Billy Graham deu o seguinte testemunho2:

Um dos evangelistas que influenciaram a minha pregação no início do meu ministério, era também compositor, e escreveu “Tudo Entregarei”, o Rev. Van de Venter. Ele era um visitante regular no Florida Bible Institute (agora Trinity Bible College), no final dos anos 1930. Nós, estudantes, amávamos aquele cavalheiro, gentil, profundamente espiritual e, frequentemente, nos reuníamos em sua casa de inverno em Tampa, Flórida, para uma noite de comunhão e cânticos.

dimanche 5 juillet 2009

O "checklist" do cristão

O que fazer nas áreas "cinzas"

Artigo do Pr. John MacArthur (com pequenas adaptações na tradução)

1 Coríntios 10:25-29; 1 Coríntios 10:32-33; Romanos 14:23

Uma das minhas alegrias como pastor é guiar as pessoas através da Palavra de Deus e explicar as implicações da Palavra em suas vidas. Excita-me ajudar os outros, esclarecendo um ponto de doutrina, interpretando um versículo difícil, ou respondendo quaisquer outras questões. Entre as preocupações levantadas pelas pessoas, não me lembro da última vez que alguém me perguntou se era errado mentir, enganar, roubar, matar, cometer adultério, ou cobiçar. Também faz muito tempo que alguém quis saber se um cristão deve ler a Bíblia, orar, ou falar para os outros sobre a salvação em Jesus Cristo. A Bíblia é muito clara sobre essas coisas.

No entanto, existe uma categoria de perguntas que se encontra em uma zona intermediária. Estas são as questões relacionadas com características da liberdade cristã que se encontram numa área "cinza". Que tipo de entretenimento é aceitável? Que tipo de música é ok? O que um cristão pode ou não fazer no domingo? E sobre o que vestir, o que comer e beber, ou como você gasta o seu tempo livre – a Bíblia trata dessas coisas?

Alguns diriam: "Não, a Bíblia não as aborda. Façam o que quiserem fazer – vocês são livres em Cristo!" Embora seja verdade que a Bíblia não lista especificamente todas as decisões possíveis que você irá enfrentar na vida, ela aborda sim todas as escolhas, através de princípios que regem a liberdade cristã. Quando você comparar suas escolhas em "áreas cinzas" com a seguinte lista de princípios da Palavra de Deus, eu garanto que você encontrará tanto clareza quanto verdadeira liberdade de viver sua vida para a glória de Deus.

Será que isso vai me beneficiar espiritualmente?

Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam (1 Coríntios. 10:23).

Algo que "convém" é útil, idôneo, ou interessante para você fazê-lo; e a ideia por trás de "edificar" é de crescer espiritualmente. Assim, baseado neste versículo, pergunte-se, "Será que fazer isso melhora minha vida espiritual? Será que isso cultiva a minha santificação? Será que isso vai me fazer crescer espiritualmente?" Se não, você deve seriamente questionar se esse comportamento é a melhor escolha.

Será que isso vai me trazer servidão?

Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma (1 Coríntios. 6:12).

Na segunda parte deste versículo, Paulo diz, "Eu não me deixarei dominar por [coisa] nenhuma." Se o que você está considerando fazer pode se tornar um vício, por que insistir nisso? Não permita que você se torne um servo de coisa alguma, nem de ninguém. Você é um servo do Senhor Jesus Cristo, e apenas dEle.

Será que isso vai corromper o templo de Deus?

Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus (1 Coríntios. 6:19-20).

Não faça nada que você sabe que vai prejudicar o seu corpo ou trazer-lhe vergonha – ele é o instrumento do qual você dispõe para glorificar Deus. Romanos 6:13 diz, "Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça." A maneira que você escolhe usar o seu corpo deve sempre refletir sua preocupação em honrar Jesus Cristo.

Será que isso vai fazer alguém tropeçar?

Ora a comida não nos faz agradáveis a Deus, porque, se comemos, nada temos de mais e, se não comemos, nada nos falta. Mas vede que essa liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os fracos (1 Coríntios. 8:8-9).

Este é o princípio do amor. Como Romanos 13:10 diz: "O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor." Se você sabe que sua escolha – que você considera "dentro dos limites" e permitida – faz outro cristão tropeçar e pecar, ame esse irmão o suficiente para restringir a sua própria liberdade. Isso não é muito popular na nossa sociedade egoísta, mas é bíblico. Insistir em praticar uma liberdade legítima que provoca problemas para outro cristão é um pecado. Pois, “pecando assim contra os irmãos, e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo. Por isso,” disse Paulo, “se a comida escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize” (1 Coríntios. 8:12-13).

Será que isso vai atrapalhar a causa da evangelização?

Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus. Como também eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar. (1 Cor 10. :32-33).

Esteja ou não você ciente disso, o que você permite ou proíbe no seu comportamento afeta o seu testemunho de Cristo – e o mundo está observando. O que sua vida diz sobre Deus é uma questão de testemunho. Seu testemunho, quer fala a verdade sobre Deus, quer fala uma mentira. As escolhas que você faz nas áreas "cinzas" devem refletir a sua preocupação em não trazer ofensas à reputação de Deus, e ao invés disso trazer-Lhe louvor.

Será que isso vai violar a minha consciência?

Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado (Rom. 14:23).

Primeira Coríntios 10:25-29 contém três referências à abstenção de uma certa prática "por razões de consciência". Nunca pratique violar sua consciência. Se a sua consciência está incomodada pelo que você esteja considerando fazer, não o faça. Se você não tem certeza, não faça isso. É difícil destacar o suficiente o valor de uma consciência limpa, vale a pena manter sua consciência limpa de modo que a sua relação com Deus não seja prejudicada. Se você se mantiver em oração e no estudo da Palavra de Deus, você irá informar sua consciência, de forma que você possa "andar como filhos da luz... aprovando o que é agradável ao Senhor" (Efésios. 5:8, 10).

Será que isso vai trazer glória a Deus?

Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus (1 Coríntios. 10:31).

Este versículo é claramente tanto a síntese quanto a meta de todos os princípios que eu compartilhei. Não é o grito de nosso coração glorificar o nosso Senhor e Salvador com nossas vidas? Pense em sua decisão – Ele será glorificado, honrado, e louvado por ela? Para que possamos dizer, juntamente com Jesus, "Eu glorifiquei-Te na terra" (João 17:4).

Então que perguntas você tem? Compare-as com os princípios acima e desfrute da sua liberdade em Cristo – a liberdade de ser aquilo que Ele criou você para ser!

vendredi 3 juillet 2009

A Importância do "Velho"

O ancião à senhora eleita, e a seus filhos, aos quais amo na verdade, e não somente eu, mas também todos os que têm conhecido a verdade (II João 1:1)

Uma particularidade da cultura brasileira que acho bastante curiosa é o culto ao “moderno”. Por aqui, parece que algo “moderno” é necessariamente bom, ou ao menos de melhor qualidade em comparação ao que o havia antes. Mas por que isso? Afinal de contas, moderno não é simplesmente “novo”? Não deveríamos considerar esse termo totalmente neutro em relação à virtude do objeto que qualifica? O novo é necessariamente bom?

Lembro-me de quando servi de guia turístico improvisado para uma senhora francesa, aqui em Recife. Ela achou Boa Viagem um bairro totalmente desinteressante (exceto a praia), comentário dela: “aqui é tudo moderno”. O francês típico é como um brasileiro às avessas: o “moderno” é frio, desprovido de história, sem interesse. O que podemos aprender com ele? A senhora francesa adorou se mudar do seu hotel em Boa Viagem para uma pensão em Olinda, numa casa colonial. Aí sim, que ambiente pitoresco, cheio de história, aconchegante.

Penso que as atitudes opostas de brasileiros e franceses são muito ligadas a história de seus países respectivos. A França foi uma super-potência mundial, e não é mais. Os franceses vivem então numa grande melancolia daquilo que “foram e não são mais”. O antigo, o histórico, isso é o importante, a essência da civilização. Já o brasileiro tem um complexo de país atrasado, nós queremos nos modernizar, somos o (eterno?) país do futuro! Então o que queremos é o moderno!

Provavelmente, as duas posições são extremas, e nós devemos tentar encontrar um equilíbrio, nos modernizarmos quando isso for bom, e não esquecermos nossa história, aprendendo com ela. Obviamente isso é mais fácil de dizer do que praticar...

Mas por que o versículo de II João 1:1 na abertura desse texto? Nele, o apóstolo João se apresenta simplesmente como “o ancião”. É provável que ele assim o tenha feito, não somente porque já estava com a idade avançada, mas porque estava desde o começo da carta enfatizando a sua “autoridade”. Culturas da região do início do cristianismo até hoje têm uma reverência e respeito aos “anciãos” muito destacada. Dificilmente se inserido em uma “cultura do moderno” o apóstolo teria se apresentado como “o ancião”.

Isso é um problema das igrejas na nossa cultura brasileira contemporânea. Frequentemente criamos uma verdadeira “obsessão” de modernidade, temos que mudar tudo para tornar a igreja atrativa para as novas gerações.

Recentemente, o pastor Kevin DeYoung (um jovem, de pouco mais de 30 anos), propôs a reflexão seguinte no seu blog. Em I Reis 22:43-44 temos o seguinte texto:

“E [o rei Josafá] andou em todos os caminhos de seu pai Asa, não se desviou deles, fazendo o que era reto aos olhos do Senhor. Todavia os altos não se tiraram; ainda o povo sacrificava e queimava incenso nos altos”

Josafá fazia o que era reto aos olhos do Senhor, com uma exceção: os altos. Esses lugares de sacrifício, herança de culturas pagãs, estavam tão entranhados na cultura local que não foram removidos. DeYoung propõe então a seguinte questão: o que poderíamos identificar como “os altos” das nossas igrejas contemporâneas? Obviamente não podemos fornecer uma resposta dogmática a essa pergunta, afinal os nossos “altos” são justamente erros que não conseguimos notar, de tão permeados que eles estão no nosso dia-a-dia.

Mas por que eu estou falando nessa reflexão do Pr. DeYoung? Porque ele arrisca-se a propor 5 altos das nossas igrejas, um deles sendo a “idolatria da juventude”, o que está intimamente relacionado ao que vinhamos comentando. DeYoung escreve:

Além disso, nós idolatramos a cultura jovem. Nesse aspecto, somos um produto da cultura na qual estamos inseridos (que é, afinal, o que torna altos tão difíceis de serem notados). Todo o mundo está focalizado na faixa demográfica dos 16-29 anos. Tudo é orientado para o que a próxima geração gosta. A cultura jovem é a nossa cultura pop. Isso é tão verdade dentro da igreja quanto fora dela. Nenhuma igreja fala sobre reinventar a igreja de tal forma que ela ressoe com as pessoas mais velhas. Mas muitos de nós estão preocupados em como mudar tudo para que os jovens gostem. Talvez isso aconteça porque os mais velhos são pessoas maduras o suficiente para renunciar aos seus desejos na esperança de tornar a igreja mais suportável para a juventude. Isso seria um exemplo de humildade altruísta. Mas isso não significa que temos que automaticamente supor que o que os jovens gostam é como as coisas devem ser. Os jovens muitas vezes não sabem do que eles deviam gostar. Na maioria das culturas ao longo da história os anciões eram reverenciados por sua sabedoria e respeitados pela sua idade. Será que nós não fizemos o contrário nos nossos dias e reverenciamos os jovens pelos seus gostos e os respeitamos por, bem, não serem velhos?

Mais importante ainda, não temos honrado os membros mais antigos de nossa igreja como deveríamos. Quer seja porque os imaginamos como demasiadamente liberais, ou demasiadamente conservadores, nós tendemos a supor que os mais velhos do que nós simplesmente não entendem. É verdade, às vezes, eles não entendem. Mas o que deveríamos começar supondo é: estes irmãos e irmãs têm caminhado com o Senhor por um longo tempo, talvez eles tenham visto algo que eu ainda não aprendi. Ao invés disso, assumimos que, por sermos jovens, os nossos gostos e estilos devem ser a regra e os velhos simplesmente devem lidar com isso.

Como temos muitos estrangeiros na nossa igreja, eu me tornei mais consciente do quão pouco minha cultura americana incentiva a honrar os pais e respeitar os mais velhos. Infelizmente, vemos isto em muitas igrejas onde o ministério jovem é tudo e o ministério sênior é praticamente nada. Nossa igreja nunca teve muitos aposentados, por isso só agora estamos aprendendo a amar e ministrar melhor para essas pessoas. Eles não estão de forma alguma desamparados (ainda que, de vez em quando, a maioria de nós se sente desamparada), mas eles enfrentam desafios especiais (problemas de saúde, solidão, morte de amigos) que gerações mais jovens não entendem. Nós guiamos as crianças quando elas devem ser desafiadas a fazer mais por si próprias, mas não damos ajuda suficiente para os idosos quando eles realmente não pode fazer tanta coisa por conta própria.

Temos que acabar com quaisquer regras não-escritas que digam que igrejas cheias de pessoas idosas não são merecedoras do tempo de um pastor jovem. E precisamos parar de separar cada geração em seu próprio grupo específico. Os jovens precisam demais dos idosos para continuarmos fazendo isso (e os idosos também irão se beneficiar dos jovens).

Idolatrar nossos anciãos não é a resposta para o problema do culto da juventude. Mas há muito mais embasamento bíblico (e precedentes históricos) para exibirmos honra e deferência para com o que pensam os mais velhos, do que nossa atual obsessão com os caprichos e desejos dos pré-adolescentes, adolescentes, e vinte e poucos anos.

Para finalizar, eu gostaria de deixar um texto, do Gilbert K. Chesterton. Chesterton publicou, em 1908, um livro que se tornou um grande clássico da apologética (defesa da fé através da razão) cristã: Ortodoxia. É um livro delicioso de ler, cujo texto integral (em inglês) já está no domínio público, e pode ser encontrado livremente na internet. Ele também foi traduzido para o português, já o vi em livrarias evangélicas. Em um certo momento, Chesterton faz colocações, bastante ingeniosas, mesmo que provocativas, sobre a importância de levarmos em consideração nossas “tradições”:

Mas há uma coisa que eu nunca consegui entender desde minha juventude. Eu nunca fui capaz de entender de onde as pessoas tiraram a ideia de que a democracia era de certa forma oposta à tradição. É óbvio que a tradição é simplesmente a democracia estendida ao longo do tempo. É confiar em um consenso de vozes humanas ao invés de em algum registro isolado ou arbitrário. (...) Aqueles que incitam contra a tradição, dizendo que os homens no passado eram ignorantes, podem ir e fazê-lo no Carlton Club, juntamente com a declaração de que os eleitores nas favelas são ignorantes. Não vai funcionar conosco. Se damos grande importância à opinião dos homens comuns, em grande unanimidade, quando estamos lidando com questões do dia-a-dia, não há razão pela qual devemos ignorá-los quando lidamos com história ou fábula. A tradição pode ser definida como uma extensão da franquia. Tradição significa dar votos à mais obscura de todas as classes, nossos antepassados. É a democracia dos mortos. A tradição se recusa a se submeter à pequena e arrogante oligarquia dos que simplesmente, por acaso, estão andando. Todos os democratas são contra que homens sejam desqualificados pelo acidente do seu nascimento; a tradição é contra que eles sejam desqualificados pelo acidente da morte. A democracia nos diz para não negligenciarmos a opinião de um homem honesto, mesmo se ele é o nosso mordomo; a tradição nos pede para não negligenciarmos a opinião de um homem honesto, mesmo quando ele é nosso pai. Eu, de maneira alguma, posso separar as duas concepções de democracia e tradição; parece-me evidente que elas são a mesma ideia. Teremos os mortos em nossos conselhos. Os gregos antigos votavam com pedras; os antepassados devem votar com pedras tombais. É tudo bastante normal e oficial, pois a maioria das pedras tombais, assim como a maioria das cédulas eleitorais, são marcadas com uma cruz.

Que tenhamos sabedoria para conciliarmos o novo e o antigo de forma a edificarmos o Corpo de Cristo no presente, e no futuro, sem esquecer o nosso passado.