vendredi 16 octobre 2009

Critica ao Livro "A vida com Proposito", de Rick Warren

Primeiro Dia - Tudo começa com Deus

Este livro começa bem. Os três primeiros parágrafos trazem uma promessa de mais grandes coisas por vir. Somos instados a considerar Deus em primeiro lugar em todas as coisas, porque Ele é o Criador de todas as coisas. Isto é precisamente onde Calvino começou suas Institutas da Religião Cristã, ressaltando que enquanto o conhecimento de si e o conhecimento de Deus parecem envolver um ao outro, na verdade o real conhecimento de si depende do verdadeiro conhecimento de Deus. O Sr. Warren prossegue, elaborando sobre dois métodos possíveis de buscar o verdadeiro auto-conhecimento: a especulação e a revelação. Nisto, ele também ecoa o procedimento de Calvino. Corretamente, ele descarta a especulação. Dado que não somos o Criador, portanto, não podemos nos pronunciar com autoridade sobre o sentido da criação. Corretamente, ele destaca a revelação, e com razão, ele identifica a revelação como a Palavra de Deus; a Bíblia. O Criador fala e assim define a realidade criada. Nosso conhecimento de nós mesmos, e de toda a criação, é verdadeiro se for baseado na revelação.

No entanto, no que se segue a grande promessa do que está por vir é destruída. O Sr. Warren afasta-se de Calvino e de toda sabedoria bíblica e bem fundada. Nas Institutas, Calvino parte para a reflexão sobre o impedimento do pecado e sobre a verdadeira Doutrina da Revelação na Bíblia. O Sr. Warren escamoteia a questão do pecado completamente. Assim, uma pergunta crucial é deixada de lado e, portanto, fica sem resposta: se somos a criação de Deus, então por que há dificuldades em se saber disso e em compreender corretamente nós mesmos e a realidade? Tendo contornado essa investigação completamente, o Sr. Warren, portanto, não traz nenhuma culpa para elaborar uma Doutrina da Revelação. Este afastamento da sabedoria bíblica conduz a muitos problemas, alguns dos quais são exibidos durante o decorrer deste primeiro dia.

Mesmo tendo destacado a "revelação" sobre a especulação, ele repetidamente fala do verdadeiro auto-conhecimento como aquilo que nós "descobrimos" (p. 18, 19, 20). Nossa "descoberta" é dita vir, "... através de um relacionamento com Jesus Cristo" (p.20). Mas, sem qualquer ideia clara do pecado em vista, esta ideia de "descoberta" não pode ser significativamente retratada como alguma coisa envolvida na Redenção. Esse problema sugere um refinamento da pergunta feita acima: se eu sou criação de Deus, então por que eu deveria estar sem um relacionamento com Jesus Cristo? Realmente, como é possível para qualquer criatura existir a menos de estar relacionada com o Criador? No entanto, não há nenhum indício de consideração dessas questões. Em vez disso, há apenas a garantia de que está dentro de nossa iniciativa e força começar uma tal relação; como ele diz, "Se você não tem essa relação, eu vou explicar posteriormente como começar uma" (p.20) . Isso, por sua vez, sugere outras questões, como por exemplo: Se Deus é o Criador de toda a realidade, e assim determina o significado e o propósito de todas as coisas, então como pode ter sentido falar de uma relação entre Deus e a Sua criatura, como dependente da iniciativa e poder da criatura? O Sr. Warren não nos fornece nenhuma explicação.

De fato, se eu "descubro" o meu significado e o meu propósito através da iniciativa que eu exerço para começar um relacionamento com Jesus Cristo, então o que realmente resta de um "Criador" ou qualquer "revelação" que consista em Sua Palavra? Como a Bíblia é essencialmente diferente do Corão, o Talmude, os Upanishads, o Bhagavad Gita, os Vedas, o I-Ching, o Ovídio, et. al.? Como a Bíblia é essencialmente diferente dos pensamentos da minha própria mente? O Sr. Warren encerra este primeiro dia com o que é suposto ser uma história inspiradora de um romancista russo ateu, que foi tomado por um grande desespero. E então, "... de repente, por si só, uma frase apareceu: Sem Deus a vida não faz sentido." (p.21) Como a Bíblia é essencialmente diferente de "por si só, uma frase apareceu"? Pode-se sugerir que a experiência do ateu russo é um exemplo da "revelação geral" da Natureza. De fato, a ortodoxia bíblica afirma que uma vez que os homens são de fato as criaturas de Deus e feitos à Sua imagem, é de sua natureza saberem disso e conhecê-Lo, embora no pecado eles procuram fugir Dele. Mas o Sr. Warren não traz nenhuma discussão comparando e contrastando a revelação “geral” da Natureza e a revelação “especial” da Bíblia. O ateu russo é apresentado como alcançando a verdadeira fé em Deus através de pensamentos que surgem na sua mente.

A ortodoxia bíblica defende, por um lado, que a revelação geral da Natureza é suficiente para que todos os homens conheçam seu dever para com Deus e, portanto, são "indesculpáveis" em seu pecado (Rm 1:18-23), e por outro lado, que somente a revelação especial da Bíblia é suficiente para a regeneração do homem na verdade (Rm 10:6-17). "Revelação" significa que Deus nos revela o que nós não poderíamos saber a menos que Ele nos falasse. Isto é o que torna a Bíblia diferente de outros "textos sagrados." A Bíblia é a Palavra do Criador sobre toda a realidade. Outros textos são as palavras de homens. A ideia verdadeiramente cristã é manter uma distinção clara e profunda entre o Criador e a criatura - entre o Deus que define e determina toda a realidade e o homem que habita, experimenta, e é limitado pela realidade. A autoridade da Bíblia, no pensamento e na vida dos homens é fundada sobre esta distinção. Sem esta distinção, a mente e os pensamentos de "Deus" não podem finalmente serem separados da mente e os pensamentos do homem. Neste caso, não poderia haver nenhuma diferença significativa entre a Bíblia e quaisquer outras palavras que pudéssemos encontrar.

Até então a mensagem do Sr. Warren parece ser: 1) O homem é uma criatura de Deus, mas 2) de algum modo a "criatura" pode existir sem relação com o "Criador"; 3) embora isto seja problemático para a criatura, no entanto ela pode exercer o seu poder e iniciativa para entrar em relação com o Criador; 4) algo que nós temos o hábito de se referir como "revelação" de alguma forma estará envolvido nesta "descoberta" do significado e o propósito da vida. Os conceitos do Sr. Warren sobre "Deus", "Homem", "Revelação" e "Descoberta" são bastante nebulosos. Portanto, nesses termos uma transformação de um homem da insignificância e inutilidade em significado e propósito é um processo mal definido de tornar-se; a criatura de alguma forma torna-se o que o Criador a fez para ser. Como o Sr. Warren o coloca, "Trata-se de se tornar o que Deus o criou para ser" (p.19).

Em contraste com isso, uma mensagem biblicamente ortodoxa defende que 1) é da natureza da criatura estar relacionada com o Criador - que nada pode existir fora dessa relação (Col. 1:17); 2) que o problema do Homem não consiste em uma dificuldade metafísica onde de alguma forma lhe falta essa relação, mas de uma dificuldade moral de ser um pecador, que infringiu a Lei de Deus e, portanto, permanece culpado diante Dele, ou seja, ele não está sem relação com Deus, mas carrega a relação de um pecador diante do seu Juiz, em vez de um filho diante de seu Pai, 3) que, portanto, a necessidade do homem não é "iniciar um relacionamento com Jesus", mas encontrar um remédio para o seu pecado; 4) e que a evidência da Natureza é suficiente para condenar todo homem que se recuse a se curvar diante do seu Criador, mas que somente a Palavra de Autoridade do Criador, o único que determina e interpreta toda a realidade, é suficiente para nos ensinar as verdades positivas de quem somos, o fato do nosso pecado, e o remédio oferecido por Deus em Cristo.

Enquanto o Sr. Warren começou seu tratado com a promessa de uma "distinção criatura/Criador," essa promessa não foi cumprida. Embora ele tenha pronunciado palavras negando a "especulação", no final, a visão que ele construiu pode não ser nada mais do que especulativa. Sua caracterização da verdade de Deus como uma “descoberta” humana implica numa correlação, e não numa distinção, do “Criador” e a “criatura”. Neste caso, o que podem “Criador” e “criatura” realmente significarem? Ou o homem é um pecador que deve humilhar-se diante do seu Criador para aprender da Sua Palavra a verdade do Criador e da criatura, ou então ele é “alguém que procura”, moralmente neutro, que deve permanecer livre para determinar o significado de “criador” e de “criatura” para si mesmo. O Sr. Warren deixou o pecado fora da discussão por completo, enquanto que sem uma verdadeira distinção "Criador/criatura" não pode haver uma ideia verdadeiramente bíblica do pecado. Sem uma ideia verdadeiramente bíblica do pecado, o Sr. Warren é forçado a uma posição de ter que abraçar justamente a especulação que ele fez um espetáculo ao rejeitar. Na falta de uma verdadeira ideia do problema básico do homem, ele é impedido de sugerir um verdadeiro remédio. Sua solução tem tudo a ver com "relacionamento" e nada tem a ver com "Redenção". Mesmo assim, seus parágrafos de abertura apresentam uma centelha de verdade. Temos que manter a esperança de que esta centelha possa ainda ser acesa e que suas deficiências possam ser superadas nos dias vindouros.


Por S. C. Mooney, em Purposen-Driven Journal