samedi 27 juin 2009

Eu gosto do que a Bíblia ensina

(de Kevin DeYoung, traduzido do original em inglês)

Cristãos não devem apenas acreditar no que a Bíblia ensina, eles devem gostar do que a Bíblia ensina. Toda a Escritura não é simplesmente suportável, mas proveitosa e inspirada por Deus (2 Tim. 3:16). A lei deve ser o nosso deleite (Salmos 1:2; 119:77; Rom. 7:2). Devemos amar os mandamentos de Deus (Salmos 119:47; 1 João 5:3).

Isto significa que obediência mecânica não é o objetivo. Não queremos nos submeter aos nossos maridos por dever, ou nos sacrificarmos por nossas mulheres por obrigação, ou nos abster de sexo porque Deus é malvado e deve ser ouvido, mas porque queremos. Deus quer mais do que uma obediência resmunguenta ou conformidade externa, ele quer que nos deleitemos na lei de Deus, em nosso interior. Então preste atenção não apenas às suas vontades, mas às suas afeições.

Isto também significa que devemos acabar com linguagens pseudo-espirituais do tipo "Eu não gosto do que a Bíblia diz sobre isso, mas ainda assim eu acredito." Tolice. Embora eu ache que, no fim das contas, é melhor que alguém abrace o complementarianismo chutando e gritando ao invés de ignorá-lo, por que é que você está chutando e gritando com a Palavra de Deus, para começo de conversa? [nt. complementarianismo: visão bíblica de que homens e mulheres não são “iguais”, mas possuem papéis complementares] Eu entendo que todos nós podemos ter períodos de conflito onde lutamos para poder entender completamente e abraçar algum elemento do ensinamento bíblico. Mas, como atitude permanente, uma aceitação resmunguenta não é uma boa opção. Não confiamos que Deus é bom? Não é a lei do Senhor, nosso deleite?

Acreditar mas não gostar do que a Bíblia diz é também um refrão comum quando se trata da doutrina do inferno. Obviamente, nenhum de nós deve ficar alegre ao pensar em pecadores sofrendo em tormento eterno. Afinal, Paulo estava bastante triste com a situação dos seus parentes segundo a carne. Mas angústia a respeito das almas dos perdidos é diferente de uma opinião flutuante sobre a existência do inferno. Quando dizemos coisas como "Se dependesse de mim não haveria um inferno, mas a Palavra de Deus o ensina, então eu acredito", não estamos sendo extra-piedosos, apenas extra-insultuosos.

Primeiramente, não depende de nós. Nunca dependeu e nunca dependerá, por isso vamos tirar isso da mesa. Em segundo lugar, quando nos posicionamos dessa maneira, parece que nos consideramos melhores do que Deus, como se estivéssemos tentando ser um "bom policial" enquanto Deus é um "mau policial." Ainda, e mais importante, estamos ignorando o objetivo do inferno. Deus é glorificado no julgamento dos ímpios. Isso é um grande tabu para ouvidos pós-modernos (ou modernos), mas é verdade. Não fosse pelo inferno, a justiça de Deus não seria feita e a glória do seu nome não seria confirmada. Se nós aceitarmos a doutrina do inferno apenas resmungando, nós não aprendemos a nos deliciar na glória de Deus acima de todas as coisas. Ainda não aprendemos a orar como o nosso primeiro pedido, "Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome."

A Bíblia é verdade e a Bíblia é boa. Quando aceitamos a sua verdade sem realmente gostar dela, só estamos a meio caminho da fé madura. Somos como crianças dizendo "Desculpa" enquanto olhamos para baixo, como um marido comprando flores para que sua esposa não fique zangada, como uma namorada que passa uma vista na carta do seu amado, quando ela deveria apreciar cada palavra e cada verdade em seu coração. Leia a Bíblia. Acredite na Bíblia. Delicie-se em tudo o que ela afirma. Qualquer coisa inferior a isso não é bom para a sua alma.



mardi 23 juin 2009

Resenha: Homilética - da pesquisa ao púlpito

Estou lendo o livro de Jilton Moraes (professor de homilética, doutor em teologia e meu tio), intitulado "Homilética: da pesquisa ao púlpito". Compartilharei algumas anotações que venho fazendo, por capítulo.

Capítulo 1: Para compreender a tarefa

Este capítulo começa apresentando a homilética como arte e ciência da pregação. Em seguida, o autor destaca a importância da pregação na missão da igreja, como um instrumento pelo qual "a mensagem de Cristo é proclamada, vidas são salvas e os salvos são doutrinados, santificados, edificados e equipados".
Nos é destacada a importância do sermão como mensagem do Senhor, e a necessidade de um bom conteúdo e uma boa forma, esta última como maneira de facilitar a comunicação do conteúdo. Jilton Moraes, não deixa de nos alertar que "um sermão com uma boa forma e sem conteúdo é como algodão-doce: pode até impressionar a alguns, mas não permanece; pode até ser bonito, mas não alimenta; pode até atrair, mas não passa de água com açúcar."
O autor enfatiza a necessidade de estudar incansavelmente a palavra de Deus e pregar com a vida, "pois o pregador que não pode viver as palavras que prega precisa calar-se e viver antes de falar."
Em seguida, Jilton Moraes insiste na importância da buscar de inspiração no Senhor, assim como conhecer os ouvintes a fim de alcançar a máxima relevância nos sermões. Faz questão de ressaltar, no entanto, que "o sermão não é eloquente pelo modo como é elaborado ou pregado; não são os princípios homiléticos ou retóricos que determinam a eloquência da mensagem, mas o fato de provir de uma vida nas mãos do Senhor, de ser pregada com a força do assim diz a Palavra do Senhor." (ênfase no original)
É então posto em destaque a importância do amor, sem o qual a pregação não passa de fazer barulho. O pregador deve cultivar a humildade, sendo capaz de chegar ao mais inculto ouvinte, tendo sempre em mente o exemplo de Cristo, o Senhor da Pregação. Por fim, o pregador deve manter-se informado sobre o mundo que o cerca, para melhor conhecer o povo e as suas necessidades.
O capítulo 1 se encerra destacando que embora o trabalho homilético seja de grande importância, é preciso que o pregador se prepare "espiritual, emocional e fisicamente para comunicar com vida, aos pés do Senhor, a mensagem capaz de transformar e edificar vidas."


samedi 20 juin 2009

Os laços que unem

1 Pedro 4:11, 2 Coríntios 7:1 Código: A308

John MacArthur (traduzido do original em inglês)

Os laços que ligamVocê já percebeu quão diferentes os membros da mesma família podem ser? Uma criança pode ser melancólica, enquanto outra é ligada na tomada. Uma pode ser especialmente dotada em música, e uma outra, que não tem interesse em música, pode se sobressair no esporte. Em alguns casos, elas não se parecem nada umas com as outras ou até mesmo com seus pais. No entanto, os membros de uma família compartilham um vínculo mais forte do que as suas diferenças.

Da mesma forma, no Corpo de Cristo, as igrejas desenvolvem as suas personalidades próprias. Algumas podem insistir em cultos formais, enquanto outras crescem em um ambiente descontraído. Mas a coisa mais importante acerca de uma igreja não são as coisas superficiais que a tornam diferente, mas o que ela tem em comum com as outras assembléias cristãs.

Existem algumas verdades – doutrinas fundamentais – com as quais toda igreja verdadeira está comprometida. Essas doutrinas são inalteráveis; elas não podem ser comprometidas de forma alguma. Elas não são negociáveis. Ao abandonar qualquer ponto, a igreja deixa de ser uma igreja. Aqui estão cinco verdades fundamentais que distinguem todas as igrejas autênticas.

Uma Visão Elevada de Deus

É essencial que uma igreja se veja como um corpo de crentes concebidos para a glória de Deus. Infelizmente, a maioria das igrejas hoje se desviaram dessa prioridade e desenvolveram um foco humano: satisfazer as necessidades humanas. Em vez de proclamar fielmente a Palavra de Deus, suficiente para direcionar as mentes das pessoas para Deus, líderes da igreja respondem a necessidades superficiais com soluções temporárias como psicologia, auto-estima, entretenimento, ou uma miríade de outras distrações.

Como resultado, a igreja já não é um organismo que enfatiza o conhecer e glorificar Deus, é uma organização que tenta ajudar as pessoas a se sentirem bem consigo mesmas. Mas se você conhece e glorifica Deus, você não precisa se preocupar com suas necessidades, porque "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria" (Prov. 9:10). Quando o seu relacionamento com Deus é correto, a sua perspectiva sobre as suas necessidades também será correta. Isso não significa que devemos ignorar as necessidades das pessoas – devemos estar preocupados com as pessoas da mesma forma como Deus está. Mas deve haver um equilíbrio, e ele começa com uma visão elevada de Deus.

Temos que levar Deus a sério e glorifica-Lo. Sim, devemos chegar às pessoas com o amor de Cristo, mas Deus deve ser o foco da nossa adoração e da nossa vida.

A autoridade absoluta da Escritura

Uma segunda verdade inegociável é a autoridade absoluta da Escritura. Deus se revela principalmente através das páginas da Escritura; é por isso que temos de mantê-la como nossa autoridade absoluta.

Porque acreditamos que a Escritura é verdade, precisamos proclamá-la com convicção e sem relativismo ou pedido de desculpas. A Bíblia faz afirmações ousadas, e cristãos que acreditam nela devem afirmá-la corajosamente.

Qualquer um que proclama a Palavra de Deus fielmente e corretamente vai falar com autoridade. Não é nossa própria autoridade. Na medida em que nosso ensinamento seja fiel à verdade da Escritura, ele tem todo o peso da autoridade do próprio Deus que lhe é subjacente. Isso é um pensamento chocante, mas é precisamente como 1 Pedro 4:11 nos instrui para lidar com a verdade bíblica: "Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus".

Se a Bíblia é verdade, então ela também possui autoridade. Como verdade divinamente revelada, ela carrega todo o peso da autoridade do próprio Deus. Se você declara acreditar na Bíblia, você deve ceder, em última instância, à autoridade bíblica. Isso significa torná-la o árbitro final da verdade - a regra pela qual toda outra opinião é avaliada.

Sã doutrina

Outra verdade inegociável para a igreja é a sã doutrina. Se você tem uma visão elevada de Deus e está comprometido com Ele, você irá obedecer a palavra Dele. O conteúdo da Palavra de Deus é a sã doutrina.

Inúmeros cristãos hoje são vagos sobre doutrina. Muitos pastores oferecem sermões curtos que podem ser estimulantes ou fazerem suas congregações se sentir melhor, mas eles têm pouco a ver com as verdades que interessam. Precisamos de verdades com as quais possamos nos agarrar - verdades sobre Deus, a vida e a morte, céu e inferno, o homem e o pecado, redenção através de Cristo, o ministério do Espírito Santo e anjos, a posição do crente em Cristo, e Satanás e o seu reino. Você precisa ser capaz de ler um texto bíblico, descobrir o que ele diz, e extrair-lhe os princípios divinos. O povo de Deus precisa de doutrina sólida, para construir suas vidas sobre ela.

Santidade Pessoal

Temos de estabelecer fronteiras quando se trata de santidade pessoal e ter cuidado ao que nos expomos ou expomos nossos filhos. Nós não ousamos abaixar nossos padrões para os padrões do mundo. Os cristãos são chamados a viver uma vida pura, e não podemos comprometer isso.

Segunda Coríntios 7:1 diz, "Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." Uma igreja deve aplicar essa norma (ver Mateus 18:15-17). É por isso que implementamos a disciplina da igreja onde eu pastoreio. Se alguém peca, nós o confrontamos para o seu próprio bem e pelo bem da igreja como um todo.

Muitos cristãos não estão tão preocupados com a sua santidade pessoal como deveriam estar. Onde você está, em termos de santidade e de comunhão verdadeira com o Deus vivo? Líderes da igreja não são os únicos que devem viver vidas santas. Você não pode ter um compromisso hesitante com Deus e esperar que ele aja através de você.

Autoridade Espiritual

Mais um componente que é encontrado em uma igreja bíblica é a autoridade espiritual. Uma igreja deve entender que Cristo é a cabeça da igreja (Eph. 1:22, 4:15) e que Ele aplica Sua lei na igreja por meio de anciãos devotos (1 Thess. 5:13-14; Hebreus. 13:7, 17).

Hebreus 13 diz para nos sujeitarmos àqueles que nos pastoreiam no Senhor, porque eles velam por nossas almas. Sigamos o exemplo deles. Paulo diz: "reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra.” (1 Tess. 5:12-13).

Sou um dos muitos líderes em nossa igreja. Eu sou aquele que Deus escolheu para pregar, mas sou apenas um ancião dentre muitos. Embora existam variações nos dons dos líderes espirituais, mesmo assim há uma igualdade de autoridade espiritual entre aqueles que a Bíblia chama de anciãos ou superintendentes. Essa liderança espiritual é essencial para a Igreja de Jesus Cristo. É por isso que a igreja deve estar comprometida com a formação e a obedecer líderes devotos.

Há espaço para diversidade dentro do Corpo de Cristo. Mas toda igreja verdadeira está unida por certas verdades inegociáveis. Certifique-se de que você e sua igreja estão comprometidos com os laços que unem.

vendredi 12 juin 2009

Que Jesus?

Quem é que vocês dizem que eu sou?

(Adaptado de "Who do You Say That I Am?", de Kevin DeYoung)1

A grandeza de Deus é mais claramente visível no seu Filho. E a glória do evangelho só é tornada evidente no seu Filho. É por isso que a pergunta de Jesus aos seus discípulos é tão importante: "Quem vocês dizem que eu sou?"

A questão é duplamente crucial em nossos dias, porque nem todo Jesus é o verdadeiro Jesus. Quase ninguém é tão popular neste país como Jesus. Quase ninguém se atreveria a falar mal dele. Basta olhar para o cara super legal que ele é na foto ao lado. Mas quantas pessoas conhecem o verdadeiro Jesus?

Há o Jesus liberal que é contra o aumento de impostos, e defende a liberdade do mercado e da iniciativa privada.

Há o Jesus socialista, que é contra Wall Street e as grandes corporações, que defende a redução das emissões de carbono e a distribuição de renda.

Há o Jesus terapeuta, que nos ajuda a lidar com os problemas da vida, cura o nosso passado, diz-nos como somos preciosos e que não devemos ser tão duros com nós mesmos.

Há o Jesus alternativo, que come alimentos orgânicos, adora conversas espirituais, anda de bicicleta e vai a festivais de cinema.

Há o Jesus de mente aberta, que ama a todos, o tempo todo, incondicionalmente, exceto as pessoas que não são tão mente aberta quanto você.

Há o Jesus esportista, que ajuda atletas a correr mais rápido e a saltar mais alto que os não-cristãos e determina os resultados dos campeonatos de futebol.

Há o Jesus mártir, um homem bom que teve uma morte cruel para que pudéssemos sentir pena dele.

Há o Jesus gentil, que era manso e suave, com grandes bochechas, cabelo balançando ao vento, e que anda descalço, vestindo uma faixa, com um ar muito sereno.

Há o Jesus hippie, que ensina a todos que deem uma chance à paz, imaginem um mundo sem religião, e que nos ajuda a lembrar que tudo o que você precisa é amor.

Há o Jesus para cima, que nos encoraja a alcançar o nosso pleno potencial, buscar as estrelas, e comprar um iate.

Há o Jesus espiritual, que odeia religião, igrejas, pastores, padres, e doutrina; que prefere ver as pessoas aproveitando a natureza, encontrando Deus dentro de si e ouvindo músicas espirituais obscuras.

Há o Jesus de palavras bonitas, bom para especiais natalinos, cartões, e maus sermões; ele inspira as pessoas a acreditar em si mesmas, e levanta-nos para que possamos caminhar sobre montanhas.

Há o Jesus revolucionário, que nos ensina a nos rebelarmos contra o status quo, resistir, e culpar o "sistema".

Há o Jesus guru, um professor sábio e inspirador, que acredita em você e o ajuda a encontrar o seu centro.

Há o Jesus namorado, que nos envolve em seus braços à medida que cantamos sobre o seu amor intoxicante em nosso lugar secreto.

Há o Jesus bom exemplo, que mostra como ajudar as pessoas, mudar o planeta, e tornar-se uma pessoa melhor.

E então há Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo. Não apenas mais um profeta. Não apenas mais um rabino. Não apenas mais um fazedor de milagres. Ele foi aquele pelo qual estavam esperando: o Filho de Davi e a semente escolhida de Abraão, aquele para nos livrar do cativeiro, o objetivo da lei mosaica, Yahweh encarnado, aquele para estabelecer o reino e o comando de Deus, aquele para curar os enfermos, para dar vista aos cegos, a liberdade para os presos e proclamar boas notícias para os pobres, o cordeiro de Deus que veio para tirar os pecados do mundo.

Esse Jesus é o Cristo do qual Deus falou à serpente, o Cristo pré-figurado a Noé no dilúvio, o Cristo prometido a Abraão, o Cristo profetizado através de Balaão diante dos Moabitas, o Cristo garantido a Moisés antes de morrer, o Cristo prometido a David quando ele era rei, o Cristo revelado a Isaías como um servo sofredor, o Cristo predito pelos profetas e preparado através de João Batista.

Esse Cristo não é um reflexo do nosso humor atual ou a projeção de nossos próprios desejos. Ele é nosso Senhor e Deus. Ele é o Filho do Pai, Salvador do mundo, e substituto dos nossos pecados - mais amoroso, mais santo, e mais maravilhosamente aterrorizante do que nunca poderíamos imaginar possível.

jeudi 11 juin 2009

Discurso sem verbos

D. Antônio de Macedo Costa

(D. Antônio de Macedo Costa (Bahia, 1830-1891) estudou em Paris e doutorou-se em Roma. Teólogo notável, foi bispo no Pará e juntamente com D. Vital de Oliveira (bispo de Olinda) combateu a Maçonaria. Ambos foram presos e anistiados após um ano e meio).

"Primeira regra de estilo, uma das principais e porventura a mais esquecida de todas: naturalidade por oposição a afetações ridículas.

Quanto no galarim da fama réu deste delito e quantos oradores, aliás dignos de encômios pelos dotes singulares de seu engenho e imaginação, responsáveis perante a crítica sisuda, pela falta de uma nobre simplicidade de estilo e boleio das frases.

Muita atenção, orador noviço, para este ponto capital.

Nada de ornatos supérfluos, apegados como parasitas ocos a cada palavra: miserável ouropel por cima de pensamentos muitas vezes ocos e sem solidez alguma, só para engano da vista de espíritos superficiais ou de mau gosto. Um brilho fosforescente e um deslumbramento passageiro, como o de um fogo de artifício, tal o único mérito desses campanudos oráculos do púlpito cristão.

Idéias porém sólidas e bem dosadas, ordem rigorosa de raciocínio, doutrinas exatas luculentamente expostas, isso nunca. Não assim Bossuet, os Bourdalouse, os Massilon e todos os outros grandes modelos da eloqüência do púlpito do grande século de Luís XIV.

Que nobre simplicidade! Que naturalidade sublime! Que opulenta sobriedade! Qual rio caudaloso por entre margens, ora severa e escarpadas, ora floridas e risonhas, mas sempre formosas de naturalidade, assim o pensamento desses famosos gênios, por entre a frase ora simples, ora mais ornada, sempre porém em relação com o assunto cheio de graças ingênuas, de louçainhas despretensiosas.

A cada um desses grandes gênios o seu merecimento próprio: a Bossuet sobretudo, em suas orações fúnebres, uma grandeza e majestade incomparáveis; ao nosso Vieira, apesar dos seus senões, uma sutileza, uma retentiva e uma fecundidade pasmosa; e assim os mais, cada qual com seus primores e as suas qualidades características, em todos porém a naturalidade e a simplicidade no seu último auge!

A frase sempre límpida, tersa, louçã; o estilo sempre acomodado ao pensamento, modestamente ataviado, sem arrebiques, sem enfeites pretensiosos e ridículos, sem todas essas lentejoulas tão em voga nas épocas de decadência literária.

Mas sobretudo no orador sagrado, no homem do Evangelho, no Ministro de Deus morto na Cruz, nada mais desairoso, em verdade, do que essas afetações de estilo! Ai! Onde aquele espírito dos varões apostólicos, onde aquela abnegação aos vãos ornatos da eloqüência do mundo?

Ministros do Altíssimo, culpados desta espécie de profanação da palavra santa! Desgraçados de vós por este abuso tão estranho dos dons de Deus e das graças do nosso divino ministério! Mas nem mais palavra! Sobre desvios como estes, só lágrimas e muitas lágrimas!"

Discurso sem a letra 'a'

DISCURSO pronunciado pelo Dr. Antônio Araújo Gomes de Sá, em 1918, ao ser admitido como sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. A originalidade do discurso que publicamos a seguir é que, em quase 1.300 palavras do texto para agradecer a indicação de seu nome naquele Instituto, o Dr. Gomes de Sá, sequer usou uma única vez a letra A. (Publicado na revista Pulso de 29/06/1966)


"Meus ilustres e digníssimos consórcios; meus senhores.

Por mim, humilde membro que vou ser deste Instituto, eu vos direi sem orgulho em que me oculte: errou no que pretende, perdeu no que colime, esse que de mim muito esperou em prol deste luzido grêmio, que, sem o meu débil concurso, vive com brilho e vence com fulgor. Sim.

Porque eu que neste momento vos dirijo um verbo simples e despretensioso, cumprindo somente o desejo de exprimir o sentimento de júbilo de que me possuo, por ser tido no vosso doce e utilíssimo convívio; no meu viver, quer como homem público, quer como eficiente de um tempo ido, sem dons que me nobilitem, sem luzes que me guiem no presente rumo do futuro; em pouco, em muito pouco mesmo, posso proteger o curso luminoso deste conjunto de homens eminentes, deste grêmio benemérito, por isso que, nem de leve, fulgem em mim resquícios de primor.

Fizestes, escolhendo-me em vosso consórcio, o que só costumo ver nos espíritos superiores e que, por isso mesmo, surtem seus vôos por sobre míseros preconceitos.

Eis o motivo por que eu me deixei prender nos elos do vosso gentil convite, e deve dizer-vos, sincero, quem fui, quem sou e quem serei, vencendo o pórtico luminoso deste templo repleto de fulgores.

Quem fui? O débil rebento de um tronco bom, e sobretudo honesto, em cujo viver de espíritos eleitos, só virtudes vi florirem e vícios nem de longe pretenderem prender.

Eduquei-me sob o influxo do bem, e tive por complemento dos meus modestos e humildes genitores, um excelente mestre conhecido de todo vós, que tens disso entre vós erguido mil louvores, que nem lhe pode dizer o seu merecimento entre os velhos, entre os moços e entre os que recebem no presente o brilho do seu espírito seleto, fulgindo como um sol que incide-nos pequeninos cérebros, sequiosos de luz.

Do colégio, de que conservo vivo o exemplo do bom e do honesto, fui vencer o tirocínio superior, onde, por muito feliz, entre docentes e condiscípulos, conservei desde o início, ouvindo Filinto, Leovigildo e Guerreiro, um nome sem deslizes, que desgosto me trouxesse, no meio de muitos estudiosos como eu.

Tenho por mim neste recinto quem vos pode dizer se me exprimo correto neste ponto.

Depois, colhido o louro de um torneio vencido, penetrei o mundo de ilusões, supondo, ingênuo que fui, fluísse em meu viver, num eterno sorrir.

Dentro em pouco, porém, vi que o sorriso nos moços nem sempre é prenúncio de um futuro venturoso e, sim, como prólogo de um sofrer contínuo, de um existir repleto de decepções e mil desgostos sem fim.

Sem que desperte dores no recesso de meu peito ferido, eu vos direi: fúnebre dobre de sinos, ouvido por mim, filho extremoso, pelo espírito desse que me deu o ser e que se foi rumo do céu, morrendo como um justo, entre outros golpes bem fundos, foi o primeiro que me fez sentir os negrores deste mundo em que vivemos.

Sofri e sofri muito com o ter perdido meu excelente e nobre genitor.

Superior porém eu fui, vencendo os óbices do sentimento, tendo, como tive e felizmente tenho, consorte e filhos, meus enlevos que me impelem, cheio de fé e de vigor, no trilho em que me vou conduzindo neste orbe, rico de dores e pobre, muito pobre mesmo, de momentos bons e felizes como este.

Isto é que fui.

Que sou?

Um pequenino servo de Têmis que fiz do Direito em si o ponto que em reside o imenso bem dos homens, e que Deus quis fosse tido por nós como virtude de virtudes, e que dele mesmo nos veio por intermédio do conhecimento que todos nós devemos ter direitos e deveres próprios, bem como dos de outrem.

Eu vos disse de princípio que tínheis feito de mim um juízo imerecido, escolhendo-me vosso consórcio.

Disse e repito.

Como o serdes gentis ergueste-me, um homem simples que sempre fui, nos estos de outro indivíduo, desejoso de ter nome e ter estudos que o elevem, que o dignifiquem, por meio dos conhecimentos científicos, vendo, ouvindo, lendo como se de cérebros sem luz seguissem sem temores, no intuito de vencer.

Eis o que sou.

E o que serei?

Se fui um zero, como vos disse, hoje sou um número dentre vós que no futuro hei de escrever com imenso orgulho todo meu por me sentir no vosso doce e superior convívio.

Flui do meu ser um júbilo incontido, por me ver neste recinto, todo luz, todo belo, todo proveito, como se nesse templo se celebre sob os meus olhos o novo surgir de um sol no meu espírito, sequioso de lumes, que me exitem o empenho de viver no centro puro em que me detendes com os fortes grilhões dos vossos profundos conhecimentos.

Tudo eu terei, recebendo de vosso ensino o que deixei de ter em outros tempos, quer porque o desleixo me tolhesse, quer porque inconsciente ou cego que estivesse.

E venho beber convosco em fonte cujo espelho reflete os melhores dons contidos nesse sólido, no mesmo berço que Rui, o vinho científico me inebrie o intelecto, sorvendo-o em copos de ouro.

E venho com os olhos fitos nesse horizonte cheio de luz.

E vendo os seus primores, sentindo-lhe os nobres feitos, noto que por isso mesmo, tudo menos eu concorre com seu brilho em benefício desse grêmio, cujos pórticos, neste momento, penetro como sócio.

Sinto-me um homem diferente, sinto-me muito bem, como se de mim se fosse um outro eu e o próprio ressurgisse, revivesse sob o influxo poderoso de vossos fecundos empreendimentos.

Meu íntimo sentir, que os vossos sentidos percebem nos breves termos de meu singelo dizer, é tudo o que de sincero reside nos refolhos do meu peito, repleto desse mesmo vigor e nobre volições com que tendes erguido o Instituto Histórico, que de mim pode ter somente fogosos e efusivos elogios.

Tendes nisso o meu futuro proceder".

Neste discurso, produto exclusivo de um esforço ingente que despendi, como noviço que sou de vosso culto, vede somente o desígnio que nutri de exprimir os meus sentimentos sem o emprego de um símbolo de todo preciso no modo de dizer e de escrever o que os nossos espíritos concebem e podem produzir.

Quis, tentei e consegui que me ouvísseis por minutos, sem que dissesse o primeiro signo com que se expõe os estilos.

Revele-se-me o inepto intento.

Perdoe-se-me o estulto propósito.

No intuito que tive e bem vedes que o cumpri, louve-se menos em mim o esquisito escopo, que o meu ilustre e glorioso mestre Ernesto C. Ribeiro, que recebe de um seu discípulo, num excêntrico discurso, os meus íntimos encômios, pois dele eu só tenho tido luzes e conselhos com que pudesse ser recebido neste Instituto.

Ele, o emérito cultor do verbo que o celebrizou entre os profundos conhecedores do Português, que encontre no meu gesto o empenho que tive de querer ser-lhe gentil, dizendo-lhe, de público, o muito bem que lhe quero e o sincero respeito que lhe voto.

Consórcios.

Sede indulgentes comigo.

Recebei-me como se eu fosse um proscrito que buscou o recolhimento deste teto, em que vejo luzindo os espíritos nobres dos conselheiros Torres e muitos outros de escol; do mesmo modo que crio o desejo certo e imperecível de tudo empreender em prol deste Instituto, dos seus benefícios presentes e futuros, do seu brilho eterno, do seu progresso vencedor, do seu indefectível merecimento, do seu luzente fim, do seu destino vigoroso, conhecidos urbi et orbi como sobremodo úteis e por sempre proveitosos.

Tenho concluído.

samedi 6 juin 2009

Citation

L'absence diminue les médiocres passions et augmente les grandes, comme le vent éteint les bougies et allume le feu.

Os perigos do misticismo

Kevin DeYoung (traduzido do original em inglês)

Eu já comentei anteriormente que gosto de começar o meu tempo devocional da manhã, lendo, seja um clássico, seja um livro de alguém que já morreu. Recentemente tenho lido o livro de Herman Bavinck [nt. teólogo, 1854-1921], Saved by Grace: The Holy Spirit's Work in Calling and Regeneration (Salvos pela Graça: O Trabalho do Espírito Santo no Chamado e na Regeneração). Este trabalho, que é extraído de seu trabalho Dogmática, em quatro volumes, focaliza-se na controvérsia do seu tempo, a respeito da regeneração imediata e da regeneração presumida.

Como eu tenho refletido sobre os Anabatistas, pensei que seria útil citar a discussão de Bavinck sobre o misticismo Anabatista (que eu não estou equiparando com os Neo-Anabatistas). Após constatar que os Anabatistas muitas vezes faziam referência a uma luz interna ou Palavra interior como a sua autoridade, Bavinck comenta mais amplamente sobre misticismo.

A sua ideia fundamental, embora modificada de uma maneira Cristã dentro de círculos cristãos, é essencial para todo misticismo, onde quer que ele tenha surgido - seja na Índia ou na Grécia, na Pérsia ou no Egito. Posta de uma forma simples, ela é a seguinte: a fim de encontrar a verdade ou a vida ou a salvação – em uma palavra, para encontrar Deus – uma pessoa não precisa sair de si mesmo, só precisa mergulhar dentro de si. Deus habita dentro das pessoas, fazendo a Sua morada no interior da pessoa, quer através da natureza ou por meio de uma descida especial, sobrenatural na pessoa. Afinal, religião não envolve doutrina ou atividade, pensar ou agir, mas a religião envolve viver em Deus, em união e comunhão com Deus, o que pode ser desfrutado apenas nas profundidades da psique de cada um, na imediação da consciência de cada um.

Bavinck discorda deste tipo de misticismo, mas ele não o considera desprovido de resultados positivos a curto prazo.

Quando esta noção foi expressada em momentos da história por uma pessoa de profunda seriedade e firme convicção, encontrando um acordo acolhedor e entusiástico em algum círculo pequeno ou grande, ela frequentemente deu origem a exuberância, coragem, entusiasmo, e um profundo e glorioso misticismo. Este também foi o caso inicialmente com os Anabatistas. Naquela época, havia muitos crentes firmes entre eles, muitos genuínos filhos de Deus. O que quer que se fale sobre os Anabatistas, não devemos nunca esquecer que em grande número e com notável fé e coragem, eles sacrificaram seus bens e seu sangue para a causa do Senhor.

Após ter fornecido esse caloroso elogio, Bavinck passa a comentar o perigo do misticismo Anabatista.

Mas o princípio logo manifestou as suas implicações errôneas. Primeiramente, as pessoas passaram a se satisfazer apenas com a Palavra interna, desprezando a Escritura e a igreja, o culto e os sacramentos [nt. o batismo e a santa ceia], apelando para revelações privadas e tornando-se culpadas de vários excessos. Em segundo lugar, quando a exuberância inicial passou, gradualmente a Palavra interna foi roubada de seu caráter especial, sobrenatural, tornando-se cada vez mais identificada com a luz natural da razão e da consciência. O supra-naturalismo abstrato foi seguido pelo racionalismo... A luz interna veio progressivamente a ser identificada, tal como acontece com os Quakers, por exemplo, com a luz da natureza. Em ambos os casos, no entanto, a Escritura não continha nada além daquilo que a pessoa já tinha aprendido pelo Espírito de Deus.

O padrão tem se repetido muitas vezes. As pessoas começam a prestar cada vez menos atenção à Escritura, dizendo que Ela possui erros ou não pode ser entendida, ou que é menos espiritual do que o Espírito dentro de nós. Exuberância, coragem, e atividades seguem, à medida que as pessoas se sentem vivas e menos algemadas pela "tradição" e proposições fixas. Com a sua verdade interior recém-encontrada, essas pessoas tornam-se cada vez mais insatisfeitas com sermões, noções de autoridade, e a Igreja-como-nós-a-conhecemos. Mais exuberância. Mas eventualmente a excitação desgasta-se. A atividade morre. O que resta é a Palavra interna, que, no final, não é diferente das nossas próprias opiniões, convicções e desejos.

Sem uma Palavra exterior, objetiva, a Palavra interna sempre abre o caminho para o racionalismo, porque, ao apelar para os nossos sentimentos interiores, acabamos simplesmente por apelar para a nossa própria razão. Ao longo do tempo, então, é cada vez mais silenciada a Escritura, à medida que continuamos a fazer e pensar o que queremos, e a Escritura é consultada apenas para confirmar aquilo que nós já "sabemos". O resultado é uma igreja fria, sem vida, sem o poder de Deus ou a verdade da Palavra de Deus.