dimanche 4 octobre 2015

O ensino de Gênesis

O livro de Gênesis é teologicamente muito rico e contém numerosos ensinamentos sobre Deus e sobre os seres humanos. A narrativa da criação se opõe ao politeísmo e apresenta um Deus totalmente soberano, distinto da sua criação, do qual todo ser tira sua existência e depende dele. Os dois primeiros capítulos revelam em particular o sentido da existência humana: o homem e a mulher, criados por Deus, na sua imagem, dependentes dele e recebedores de sua vontade de abençoá-los. Os capítulos seguintes esclarecem o estado do mundo atual: a desobediência e a vontade humana de autonomia em relação a Deus causaram o mal, o sofrimento, a separação de Deus, até então desconhecidos para a boa criação divina. Adão e Eva deram corda em uma engrenagem que leva os homens ainda mais longe: assim nós vemos o mal se intensificar ao longo das gerações, em particular na linhagem de Caim (cap. 4), até o momento em que Deus coloca um fim através do dilúvio (cap. 6). Além desse julgamento, nós assistimos ainda ao desenvolvimento do mal em sua dimensão social, notadamente em Babel, onde os homens tentar erguer um sistema totalitário por meio do qual o homem tem a pretenção de se elevar até o céu (cap. 11). Os julgamentos que Deus exerce portanto contra os seres humanos (a expulsão do Édem, o dilúvio, a dispersão das nações a partir de Babel, etc.) manifestam que ele permanece apesar de tudo plenamente em controle da situação.

Paralelamente é afirmada a vontade divina da salvação para a humanidade. Deus a anuncia desde que a maldição causada pelo pecado entra em efeito: a serpente tentadora será um dia vencida (3.15). Ao colocar Sete no lugar de Abel, assassinado por Caim, Deus realiza sua promessa de trazer da mulher uma linhagem que se oporá àquela da serpente, representada por Caim (ver 5.3 e cap 4). Apesar da presença do mal, a civilização se desenvolve (4.17-22). Deus preserva a humanidade, enquanto que o dilúvio destrói sua obra criadora. A aliança com Noé (8.21-9.17) sela este comprometimento divino em preservar o mundo e a humanidade para a salvação.

A segunda parte do livro apresenta a gênese da obra de salvação de Deus. Deus escolhe Abraão e lhe promete um descendente a partir do qual se constituirá um povo e ao qual ele promete também um país. Desde então, é precisado que a partir disso é visada a benção de todos os povos da terra inteira (12.3). Tudo o que se segue mostra como Deus faz para realizar sua promessa. É destacado que foi Deus que criou, e desperta esse povo que é o seu. É de fato um milagre que nasce Isaque, o filho de Abraão, herdeiro da promessa, quando seus pais se encontravam incapazes de ter filhos. Na geração seguinte, Deus novamente deverá remover o obstáculo da esterilidade, desta vez aquela de Rebeca. A oração de Isaque nesse sentido mostra como tudo depende de Deus (25.21). Desta maneira, a salvação aparece como obra de Deus somente, para qual os homens não podem contribuir. A propósito, quando Abraão tenta contribuir por seus próprios meios à realização da promessa, ele apenas traz problemas (16; 21.8). Deus requer simplesmente aos homens a fé e a fidelidade.

A história de Jacó, filho de Isaque, destaca a indignidade do herdeiro da promessa. No entanto, Deus cumpre os seus projetos: por um lado ao proteger Jacó das consequências de seus atos errados, por exemplo quando sua vida está ameaçada pelo seu sogro Labão ou pelo seu irmão Esaú; por outro lado, ao trazê-lo através de um longo caminho para aprender a confiança em Deus e a submissão. Então, Ele dará a José, um dos filhos de Jacó, vítima de seus irmãos (ele escapa por pouco da morte, tendo sido vendido como escravo no Egito) um destino excepcional; através dele, toda sua família será salva da terrível fome rampante à época. Assim, como o autor parece desejar ao fim do livro, Deus se serve do mal cometido pelos homens para realizar os seus projetos (50.19). Deus aparece portanto como aquele que conduz a história, que intervém na vida dos homens, utilizando as circunstâncias, inclusive os atos maus dos homens, para realizar os seus planos sem que nada possa impedi-los.

A gratuidade da benção se manifesta ainda nas escolhas de Deus. Muitas vezes, o vemos preferir um filho mais novo a um primogênito, às vezes contra a vontade do pai. Foi o caso de Sete em relação a Caim, depois de Sem em relação a Jafé (10.21); é o caso de Isaque em relação a Ismael, de Jacó preferido a Esaú enquanto que Isaque tentava fazer do seu primogênito o seu herdeiro (cap. 27), e enfim de Efraim que obtém a preminência sobre Manassés contra o desejo de seu pai José (cap. 48).  Nota-se assim que os privilégios naturais não fornecem nenhum direito especial diante de Deus, o homem não tem nada a fazer para obter a benção divina: esta é graça.

Podemos ainda meditar sobre a diversidade dos herdeiros. Abraão, o pioneiro, é um homem de coragem e de fé. Isaque é "apagado". Sua contribuição é essencialmente aquela de espera em oração, durante vinte anos. Jacó, o "desenrolado", quer custe o que custar a promessa, mas tenta obtê-la por meios tortos. Ele deverá aprender, de forma frequentemente dolorosa, que o caminho da benção se encontra na submissão e na obediência a Deus. Contrariamente aos três anteriores, que levam uma vida semi-nômade, José conhece um estino excepcional, chegando a uma alta função em um dos maiores reinos da época. Ele sabe no entanto que ele a deve ao seu Deus.

O Gênesis não esconde as fraquezas humanas. Nós já a destacamos em relação a Jacó e aos irmãos de José. O grande homem de fé que foi Abraão não esteve imune a dúvidas, o que lhe fez tentar realizar a promessa divina por seus próprios meios. Isaque tenta ir contra a decisão divina desejando transmitir a benção ao seu filho Esaú (27.1-4), enquanto Deus escolheu Jacó (25.23). Abraão também vai recorrer a uma estratégia pouco louvável para salvar sua vida: ele faz passar sua esposa por sua irmã, sob o risco de perder aquela que deveria trazer ao mundo o seu herdeiro. A repetição deste mesmo erro em circunstâncias diferentes por Abraão, e então por Isaque (12.10-20; 20; 26), diz bastante sobre a fraqueza dos homens que repetem às vezes os mesmos erros sem aprender as lições. Aqueles que adotam uma atitude crítica em relação à Bíblia consideram essas três narrativas como três versões diferentes de um mesmo evento; no entanto isso é ignorar este ensinamento. Desta maneira, o retrato dos patriarcas parece isento de qualquer idealização, o que confere às narrativas do Gênesis uma evidência extra de autenticidade.

Adaptado de: Introduction au Livre de la Genèse. Bible d'Étude du Semeur. Éditions Excelsis, France 2005