vendredi 3 juillet 2009

A Importância do "Velho"

O ancião à senhora eleita, e a seus filhos, aos quais amo na verdade, e não somente eu, mas também todos os que têm conhecido a verdade (II João 1:1)

Uma particularidade da cultura brasileira que acho bastante curiosa é o culto ao “moderno”. Por aqui, parece que algo “moderno” é necessariamente bom, ou ao menos de melhor qualidade em comparação ao que o havia antes. Mas por que isso? Afinal de contas, moderno não é simplesmente “novo”? Não deveríamos considerar esse termo totalmente neutro em relação à virtude do objeto que qualifica? O novo é necessariamente bom?

Lembro-me de quando servi de guia turístico improvisado para uma senhora francesa, aqui em Recife. Ela achou Boa Viagem um bairro totalmente desinteressante (exceto a praia), comentário dela: “aqui é tudo moderno”. O francês típico é como um brasileiro às avessas: o “moderno” é frio, desprovido de história, sem interesse. O que podemos aprender com ele? A senhora francesa adorou se mudar do seu hotel em Boa Viagem para uma pensão em Olinda, numa casa colonial. Aí sim, que ambiente pitoresco, cheio de história, aconchegante.

Penso que as atitudes opostas de brasileiros e franceses são muito ligadas a história de seus países respectivos. A França foi uma super-potência mundial, e não é mais. Os franceses vivem então numa grande melancolia daquilo que “foram e não são mais”. O antigo, o histórico, isso é o importante, a essência da civilização. Já o brasileiro tem um complexo de país atrasado, nós queremos nos modernizar, somos o (eterno?) país do futuro! Então o que queremos é o moderno!

Provavelmente, as duas posições são extremas, e nós devemos tentar encontrar um equilíbrio, nos modernizarmos quando isso for bom, e não esquecermos nossa história, aprendendo com ela. Obviamente isso é mais fácil de dizer do que praticar...

Mas por que o versículo de II João 1:1 na abertura desse texto? Nele, o apóstolo João se apresenta simplesmente como “o ancião”. É provável que ele assim o tenha feito, não somente porque já estava com a idade avançada, mas porque estava desde o começo da carta enfatizando a sua “autoridade”. Culturas da região do início do cristianismo até hoje têm uma reverência e respeito aos “anciãos” muito destacada. Dificilmente se inserido em uma “cultura do moderno” o apóstolo teria se apresentado como “o ancião”.

Isso é um problema das igrejas na nossa cultura brasileira contemporânea. Frequentemente criamos uma verdadeira “obsessão” de modernidade, temos que mudar tudo para tornar a igreja atrativa para as novas gerações.

Recentemente, o pastor Kevin DeYoung (um jovem, de pouco mais de 30 anos), propôs a reflexão seguinte no seu blog. Em I Reis 22:43-44 temos o seguinte texto:

“E [o rei Josafá] andou em todos os caminhos de seu pai Asa, não se desviou deles, fazendo o que era reto aos olhos do Senhor. Todavia os altos não se tiraram; ainda o povo sacrificava e queimava incenso nos altos”

Josafá fazia o que era reto aos olhos do Senhor, com uma exceção: os altos. Esses lugares de sacrifício, herança de culturas pagãs, estavam tão entranhados na cultura local que não foram removidos. DeYoung propõe então a seguinte questão: o que poderíamos identificar como “os altos” das nossas igrejas contemporâneas? Obviamente não podemos fornecer uma resposta dogmática a essa pergunta, afinal os nossos “altos” são justamente erros que não conseguimos notar, de tão permeados que eles estão no nosso dia-a-dia.

Mas por que eu estou falando nessa reflexão do Pr. DeYoung? Porque ele arrisca-se a propor 5 altos das nossas igrejas, um deles sendo a “idolatria da juventude”, o que está intimamente relacionado ao que vinhamos comentando. DeYoung escreve:

Além disso, nós idolatramos a cultura jovem. Nesse aspecto, somos um produto da cultura na qual estamos inseridos (que é, afinal, o que torna altos tão difíceis de serem notados). Todo o mundo está focalizado na faixa demográfica dos 16-29 anos. Tudo é orientado para o que a próxima geração gosta. A cultura jovem é a nossa cultura pop. Isso é tão verdade dentro da igreja quanto fora dela. Nenhuma igreja fala sobre reinventar a igreja de tal forma que ela ressoe com as pessoas mais velhas. Mas muitos de nós estão preocupados em como mudar tudo para que os jovens gostem. Talvez isso aconteça porque os mais velhos são pessoas maduras o suficiente para renunciar aos seus desejos na esperança de tornar a igreja mais suportável para a juventude. Isso seria um exemplo de humildade altruísta. Mas isso não significa que temos que automaticamente supor que o que os jovens gostam é como as coisas devem ser. Os jovens muitas vezes não sabem do que eles deviam gostar. Na maioria das culturas ao longo da história os anciões eram reverenciados por sua sabedoria e respeitados pela sua idade. Será que nós não fizemos o contrário nos nossos dias e reverenciamos os jovens pelos seus gostos e os respeitamos por, bem, não serem velhos?

Mais importante ainda, não temos honrado os membros mais antigos de nossa igreja como deveríamos. Quer seja porque os imaginamos como demasiadamente liberais, ou demasiadamente conservadores, nós tendemos a supor que os mais velhos do que nós simplesmente não entendem. É verdade, às vezes, eles não entendem. Mas o que deveríamos começar supondo é: estes irmãos e irmãs têm caminhado com o Senhor por um longo tempo, talvez eles tenham visto algo que eu ainda não aprendi. Ao invés disso, assumimos que, por sermos jovens, os nossos gostos e estilos devem ser a regra e os velhos simplesmente devem lidar com isso.

Como temos muitos estrangeiros na nossa igreja, eu me tornei mais consciente do quão pouco minha cultura americana incentiva a honrar os pais e respeitar os mais velhos. Infelizmente, vemos isto em muitas igrejas onde o ministério jovem é tudo e o ministério sênior é praticamente nada. Nossa igreja nunca teve muitos aposentados, por isso só agora estamos aprendendo a amar e ministrar melhor para essas pessoas. Eles não estão de forma alguma desamparados (ainda que, de vez em quando, a maioria de nós se sente desamparada), mas eles enfrentam desafios especiais (problemas de saúde, solidão, morte de amigos) que gerações mais jovens não entendem. Nós guiamos as crianças quando elas devem ser desafiadas a fazer mais por si próprias, mas não damos ajuda suficiente para os idosos quando eles realmente não pode fazer tanta coisa por conta própria.

Temos que acabar com quaisquer regras não-escritas que digam que igrejas cheias de pessoas idosas não são merecedoras do tempo de um pastor jovem. E precisamos parar de separar cada geração em seu próprio grupo específico. Os jovens precisam demais dos idosos para continuarmos fazendo isso (e os idosos também irão se beneficiar dos jovens).

Idolatrar nossos anciãos não é a resposta para o problema do culto da juventude. Mas há muito mais embasamento bíblico (e precedentes históricos) para exibirmos honra e deferência para com o que pensam os mais velhos, do que nossa atual obsessão com os caprichos e desejos dos pré-adolescentes, adolescentes, e vinte e poucos anos.

Para finalizar, eu gostaria de deixar um texto, do Gilbert K. Chesterton. Chesterton publicou, em 1908, um livro que se tornou um grande clássico da apologética (defesa da fé através da razão) cristã: Ortodoxia. É um livro delicioso de ler, cujo texto integral (em inglês) já está no domínio público, e pode ser encontrado livremente na internet. Ele também foi traduzido para o português, já o vi em livrarias evangélicas. Em um certo momento, Chesterton faz colocações, bastante ingeniosas, mesmo que provocativas, sobre a importância de levarmos em consideração nossas “tradições”:

Mas há uma coisa que eu nunca consegui entender desde minha juventude. Eu nunca fui capaz de entender de onde as pessoas tiraram a ideia de que a democracia era de certa forma oposta à tradição. É óbvio que a tradição é simplesmente a democracia estendida ao longo do tempo. É confiar em um consenso de vozes humanas ao invés de em algum registro isolado ou arbitrário. (...) Aqueles que incitam contra a tradição, dizendo que os homens no passado eram ignorantes, podem ir e fazê-lo no Carlton Club, juntamente com a declaração de que os eleitores nas favelas são ignorantes. Não vai funcionar conosco. Se damos grande importância à opinião dos homens comuns, em grande unanimidade, quando estamos lidando com questões do dia-a-dia, não há razão pela qual devemos ignorá-los quando lidamos com história ou fábula. A tradição pode ser definida como uma extensão da franquia. Tradição significa dar votos à mais obscura de todas as classes, nossos antepassados. É a democracia dos mortos. A tradição se recusa a se submeter à pequena e arrogante oligarquia dos que simplesmente, por acaso, estão andando. Todos os democratas são contra que homens sejam desqualificados pelo acidente do seu nascimento; a tradição é contra que eles sejam desqualificados pelo acidente da morte. A democracia nos diz para não negligenciarmos a opinião de um homem honesto, mesmo se ele é o nosso mordomo; a tradição nos pede para não negligenciarmos a opinião de um homem honesto, mesmo quando ele é nosso pai. Eu, de maneira alguma, posso separar as duas concepções de democracia e tradição; parece-me evidente que elas são a mesma ideia. Teremos os mortos em nossos conselhos. Os gregos antigos votavam com pedras; os antepassados devem votar com pedras tombais. É tudo bastante normal e oficial, pois a maioria das pedras tombais, assim como a maioria das cédulas eleitorais, são marcadas com uma cruz.

Que tenhamos sabedoria para conciliarmos o novo e o antigo de forma a edificarmos o Corpo de Cristo no presente, e no futuro, sem esquecer o nosso passado.



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