lundi 11 août 2008

Discussões de Domingo, o Perdão


Hoje pela manhã, discutíamos os textos bíblicos de Mateus 5:43-48 e Lucas 6:27-36. Sem dúvida os preceitos aqui estabelecidos por Jesus estão entre os mais difíceis de seguirmos no nosso dia-a-dia. Embora o assunto principal seja o amor, na nossa discussão nós nos desviamos para um assunto correlato, o perdão. Os facilitadores da discussão falavam que devemos perdoar continuamente aqueles que nos fazem mal. Em um determinado momento intervi, dizendo que perdoar continuamente aqueles que nos fazem mal é um mandamento bíblico, mas é importante observamos a questão do arrependimento. Eu creio que seja insano perdoamos alguém que não se arrependeu, pois assim estamos estimulando o pecado daquele que nos ofendeu. Note que não estou dizendo que alguém deve “merecer” o perdão, mas que haja um real arrependimento. Argumentei que isso é análogo ao perdão de Deus, que é possível mesmo para o maior dos pecadores, mas que requer o seu arrependimento, através da fé em Jesus Cristo. Afinal, o amor de Deus é o modelo último, o texto em Mateus conclui com “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial”, enquanto que o texto em Lucas conclui com “Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso”. Assim, ambos estabelecem claramente esse padrão.


Mais tarde, em casa, encontrei o texto que eu tinha em mente, mas que devido às minhas limitações no conhecimento da Bíblia, não me lembrava de cor onde se encontrava. Lucas 17:3-4, palavras de Jesus:


Tende cuidado de vós mesmos; se teu irmão pecar, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe. Mesmo se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; tu lhe perdoarás.


Creio que seja claro nesse texto que o perdão passa pelo arrependimento. John Piper (no seu sermão As we Forgive our Debitors), faz o seguinte comentário sobre esta passagem (tradução minha):


O perdão de uma pessoa não arrependida não parece ser o mesmo que aquele de uma pessoa arrependida.

Na verdade, eu não estou certo de que o termo perdão seja jamais aplicável a uma pessoa não arrependida. Tendo em vista o que Jesus disse em Lucas 17:3-4, há uma noção de que um perdão completo só é possível em resposta ao arrependimento.

Mas mesmo se a pessoa não se arrepender (cf. Mateus 18:17), nos é comandado de amarmos nossos inimigos e orarmos por aqueles que nos perseguem e fazermos o bem àqueles que nos odeiam (Lucas 6:27).

A diferença é que quando uma pessoa que nos fez mal não se arrepende com contrição, confissão e conversão (desviando-se do pecado para a justiça), ela inibe o trabalho completo do perdão.

Nós ainda podemos abandonar a nossa ira; nós podemos entregar a nossa raiva a Deus; nós podemos procurar fazer-lhe o bem; mas nós não podemos passar pela reconciliação ou intimidade.


Concordo inteiramente com Piper, mas acrescento que, no meu ponto de vista, perdão sem reconciliação não é perdão. Mantenho portanto minha opinião (baseada na Bíblia) que o perdão requer arrependimento.


Ainda buscando mais esclarecimentos sobre o assunto, consultei os comentários da Bible d'Étude du Semeur (Bíblia de Estudo do Semeador). Ela traz o seguinte comentário sobre Lucas 17:3-4 (tradução minha):


Da mesma maneira que Deus só perdoa se nós mudarmos de atitude e de modo de vida (ver Jeremias 36:3; Ezequiel 33:11; Marcos 1:4; Atos 2:37 [e 38]; Lucas 13:5; 1 João 1:9), nós somente podemos perdoar a outro se ele se arrepender (v. 4). Pois através do arrependimento, aquele que cometeu uma ofensa finalmente considera a ofensa como aquilo que ela é: um pecado que o ofendido deve desejar perdoar (v. 4; Mateus 18:15). Pois o perdão é a “marca de fábrica” do cristão.


Fico contente em ver que os teólogos dessa Bíblia de estudo usaram a mesma linha de argumentação que eu tinha em mente. Vejo que não estou sozinho na minha opinião.